sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


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Programa de Direitos Humanos

Preparado sem uma ampla consulta à sociedade
O Governo apresentou, no início das férias de final de ano, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), com mais de 500 proposições e 73 páginas que, segundo muitos comentadores, agride diversos artigos da Constituição Brasileira e afronta diversos setores da sociedade civil. Assim, o leitor fica sem saber se esse decreto, que sai em ano eleitoral, deve ser recebido como o programa com o qual o Governo mostra, sem retoques, seu rosto aos eleitores ou se foi um equívoco do grupo que o redigiu, destinado a sair de circulação.

Os temas tratados são de grande interesse, mas os equívocos são muitos e perigosos. O PNDH foi preparado sem uma ampla consulta à sociedade. Esta seria a maneira de sinalizar amadurecimento e consolidação do método democrático, abrindo espaço para o diálogo na sociedade plural.

Os direitos humanos dos quais fala o PNDH se parecem mais com proposições de forte conotação ideológica, próprias de grupos minoritários, do que com os Direitos Humanos propriamente ditos.

“A fonte última dos Direitos Humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio homem e em Deus seu criador. Tais direitos são universais, invioláveis e inalienáveis” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 153).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada no dia 10 de dezembro de 1948 pela ONU, tinha por objetivo, como está dito no Preâmbulo, inibir a repetição de circunstâncias históricas que provocaram “o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos que resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade”.

Os direitos que constam na Declaração da ONU podem e devem ser aperfeiçoados, integrados e explicitados. Mas isso jamais pode ser feito apresentando outros “direitos” em contradição com os que já foram solenemente proclamados. É o caso, por exemplo, do direito à vida, formulado no artigo terceiro da Declaração da ONU que reza: “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.

O PNDH quer descriminalizar o aborto, tornando-o legítimo e factível até o último dia da gestação. Isto contradiz frontalmente o espírito e a letra do artigo terceiro. Além disso, pretende fazer passar como direito universal à vontade de uma minoria, já que a maioria da população brasileira manifestou explicitamente sua vontade contrária. Fazer aprovar por decreto o que já foi rechaçado repetidas vezes por órgãos legítimos traz à tona métodos autoritários dos quais com muitos sacrifícios nos libertamos ao restabelecer a democracia no Brasil na década de 80.

Além do mais “a abertura à vida está no centro do desenvolvimento –afirma o Papa Bento- Quando uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e as energias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem” (Caritas in Veritate, n. 28).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo XVII reza: “Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”. No entanto, o PNDH pretende banir do espaço público os símbolos religiosos. Creio que um referendum a respeito disso demonstraria a origem ideológica de uma opção que um pequeno grupo quer impor ao país inteiro, revelando sua postura autoritária. O amor à religião caracteriza a sensibilidade e a cultura do povo brasileiro. Fica difícil compreender como o Governo mais popular possa tomar decisões antipopulares.

O Brasil será condenado a continuar sendo o País do futuro? Nós podemos dar todos os passos para ingressar num patamar mais elevado de justiça e de democracia, de crescimento e de paz. Mas o PNDH traz muitos sinais que parecem alimentar o atraso, o conflito e o mal-estar na sociedade.


Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


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A beleza da moral católica

O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus
A moral católica tem como objetivo levar o cristão à realização da sua vocação suprema que é a santidade. Ela tem como objetivo dirigir o comportamento do homem para o seu Fim Supremo que é Deus, que se revelou ao homem de modo especial em Jesus Cristo e sua Igreja.
A Moral vai além do Direito que se baseia em leis humanas; mas nem sempre perscruta a consciência. Pode acontecer de alguém estar agindo de acordo com o Direito, mas não de acordo com a consciência. Nem tudo que é legal é moral.
A Moral cristã leva em conta que o pecado enfraqueceu a natureza humana e que ela precisa da graça de Deus para se libertar de suas tendências desregradas e viver de acordo com a vontade de Deus.
Portanto, a Moral cristã e a Religião estão intimamente ligadas, tendo como referência Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Ser cristão é viver em comunhão com Cristo, vivendo Nele, por Ele e para Ele. É de dentro do coração do cristão que nasce a vontade de viver a “Lei de Cristo”, a Moral cristã, e isto é obra do Espírito Santo. Não é um peso, é uma libertação.
O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus. Dizia S. João da Cruz que “amor só se paga com amor”.
“Deus é amor” (1Jo 4, 16) e Ele “nos amou primeiro” (1Jo 4, 19).
Ninguém deve viver a Lei de Cristo, por medo, mas por amor ao Senhor que desceu do céu, e imolou-se por cada um de nós. Nosso amor a Deus não deve ser o amor do escravo que lhe obedece por medo do castigo, e nem do mercenário que o obedece por amor ao dinheiro, mas sim o amor do filho que obedece ao pai simplesmente porque é amado por ele.
São Paulo dizia: “O amor de Cristo me constrange” (2Cor 5,14).
Ninguém será verdadeiramente espiritual enquanto não viver a lei de Deus simplesmente por amor a Deus e não por medo de castigos.
Por outro lado, devemos viver a lei de Deus porque ela é, de fato, o caminho para a nossa verdadeira felicidade. Ele nos ama e é Deus; não erra e não pode nos enganar; logo, sua Lei, é o melhor para nós.
Quem não obedece ao catálogo do projetista de uma máquina, acaba estragando-a; assim, quem não obedece a Lei de Deus, acaba destruindo a sua maior obra que é a pessoa humana.
A Lei de Cristo se resume em “amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo” (cf. Mt 22, 37-40). Mas esse amor ao próximo não é apenas por uma questão de simpatia ou afinidade com ele, mas pelo exemplo de Cristo, que “nos amou quando ainda éramos pecadores”, como disse S. Paulo. Por isso, o cristão odeia o pecado mas sempre ama o pecador. A Igreja ensina que não se deve impor a verdade sem caridade, mas também não se deve sacrificar a verdade em nome da caridade.
Deus sempre exigiu do povo escolhido, consagrado a Iahweh (Dt 7,6; 14,2.21), a observância das Suas Leis, para que este povo fosse sempre feliz e abençoado.
“Observareis os mandamentos de Iahweh vosso Deus tais como vo-los prescrevo” (Dt 4,2).
“Iahweh é o único Deus... Observa os seus estatutos e seus mandamentos que eu hoje te ordeno, para que tudo corra bem a ti e aos teus filhos depois de ti, para que prolongues teus dias sobre a terra que Iahweh teu Deus te dará, para todo o sempre” (Dt 14,40).
Deus tem um grande ciúme do seu povo, e não aceita que este deixe de cumprir suas Leis para adorar os deuses pagãos.
“Eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento...” (Dt 5,9).
O Apóstolo São Tiago, lembra-nos esse ciúme de Deus por cada um de nós, ao dizer que:
“Sois amados até ao ciúme pelo Espírito que habita em vós” (Tg 4,5).
Deus não aceita ser o segundo na nossa vida, Ele exige ser o primeiro, porque para Ele cada um de nós é o primeiro.
Esse amor a Deus se manifesta exatamente na obediência aos mandamentos: “Andareis em todo o caminho que Iahweh vosso Deus vos ordenou, para que vivais, sendo felizes e prolongando os vossos dias na terra que ides conquistar” (Dt 5,33).
E as bençãos que Deus promete são abundantes:
“Se de fato obedecerdes aos mandamentos que hoje vos ordeno, amando a Iahweh vosso Deus e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma, darei chuva para a vossa terra no tempo certo: chuvas de outono e de primavera. Poderás assim recolher teu trigo, teu vinho novo e teu óleo; darei erva no campo para o teu rebanho, de modo que poderás comer e ficar saciado” (Dt 11.13-15; Lv 26; Dt 28).
Jesus disse aos Apóstolos: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,23).
“Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai ...“ (Mt 7,21) .
O nosso Papa Bento XVI tem falado do perigo da “ditadura do relativismo”. Na homilia que proferiu na missa que precedeu o início do Conclave que o elegeu, ele deixou claro as suas maiores preocupações:
“...que nos tornemos adultos em nossa fé. Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste sermos crianças na fé? Responde São Paulo: “Significa sermos arrastados para lá e para cá por qualquer vento doutrinário. Uma descrição muito atual!””
“Quantos ventos doutrinários experimentamos nesses últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamentos... O pequeno barco do pensamento de muitos cristãos se viu freqüentemente agitado por essas ondas arremessado de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, e até mesmo a libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do agnosticismo ao sincretismo, e muito mais. A cada dia nascem novas seitas, e as palavras de São Paulo sobre a possibilidade de que a astúcia nos homens, seja causa de erros são confirmadas.”
“Ter uma fé clara, de acordo com o Credo da Igreja, muitas vezes foi rotulado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina», parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades. Nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo.”
O relativismo religioso é aquele em que cada um faz a “sua” própria doutrina moral, e não mais segue os Mandamentos dados por Deus. E quem não age segundo esta perversa ótica, é então menosprezado e chamado de retrógrado, obscurantista, etc.
Mas a Igreja nunca trairá o seu Senhor. Demos graças a Deus por este novo Pedro que Ele pos à frente do Seu Rebanho! Caminhemos com alegria e coragem, pois: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia, ubi Ecclesia ibi Christus” – Onde está Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo. (São Basílio Magno)
Viver a Moral católica é ser fiel a Jesus Cristo e a tudo o que Ele ensina através da sua Igreja.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


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Onde está o teu tesouro?

O cristão não deve colocar sua segurança nos bens que possui
O tema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Economia e Vida”, e seu lema, “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24) tem implicações claras para a ética social. O amor exagerado ao dinheiro está na raiz de injustiças sociais, misérias, desonestidades, violências e insensibilidades diante dos sofrimentos do próximo, degrado ambiental e morte; por isso, o apelo à conversão quaresmal tem fortes implicações para o nosso comportamento social. Nossa ação de discípulos de Jesus Cristo deverá ajudar a marcar as relações econômicas com a ética da solidariedade e da fraternidade, em vez da lógica do lucro ávido; a busca esforçada do bem comum deve tomar o lugar da afirmação individualista do bem pessoal.
O tema da Campanha, porém, também traz à nossa reflexão uma questão que nunca deve ser esquecida: em que consiste o verdadeiro bem do homem? Entre os muitos bens acessíveis e legitimamente desfrutáveis, algum é o bem supremo que não poderá ser trocado por nenhum outro? Esta questão, que tem implicações fundamentais para a vida pessoal e a fé em Deus, perpassa toda a Bíblia e merece mais de uma observação de Jesus nos Evangelhos. A pensar bem, a questão também é posta por quase todas as religiões que identificam, geralmente, no apego às riquezas deste mundo um perigo para a fé em Deus; é verdade que alguma forma de religiosidade também pretende colocar Deus a serviço da aquisição de bens, através de certa “teologia da prosperidade”; mas tenhamos a certeza disso: usar Deus para fazer dinheiro ou para prometer bens aos outros é, claramente, desrespeitoso e blasfemo em relação a Deus.
A palavra de Jesus – “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” faz referência direta ao primeiro mandamento da Lei de Deus: “Não terás outros deuses fora de mim; amarás o Senhor, teu Deus, e somente a ele servirás”. Servir ao dinheiro é colocá-lo no lugar de Deus, passando a dar-lhe mais atenção que ao próprio Deus; e o dinheiro é transformado em ídolo. Ainda no sermão da montanha, Jesus ensina os discípulos a serem sábios durante a vida e a buscarem tesouros verdadeiros, e não aparentes: “Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Onde está teu tesouro, aí também está teu coração” (Mt 6, 19-21).
O cristão e toda pessoa de bom senso não deve colocar sua segurança nos bens que possui. Jesus adverte contra todo tipo de ganância, que é a busca ávida dos bens; e conta a parábola daquele homem rico, que fez uma colheita muito abundante e pensou: “agora posso ficar tranquilo, tenho reservas para muitos anos e vou gozar a vida...” E Jesus diz que aquele homem foi “insensato”, ou seja, sem juízo: “naquela mesma noite ele morreu; e toda a riqueza que ajuntou, para quem ficou? Coisa semelhante acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico para Deus” (cf Lc 12, 13,21).
Também o sábio do Antigo Testamento, que avaliava todas as coisas a partir do horizonte de sua fé e confiança em Deus, já advertia contra a ilusão das riquezas: “Por que temer os que confiam nas riquezas e se gloriam da abundância de seus bens? Ninguém se livra da morte por dinheiro, nem pode pagar a Deus o seu resgate; por nenhum preço dá para livrar-se da morte e por nenhuma riqueza poderá o homem comprar-se uma vida sem limites, ou assegurar para si uma existência imortal; morrem os sábios e os ricos igualmente; morrem os loucos e também os insensatos; e todos terão por casa uma sepultura...” (cf Sl 48 (49), 6-12). Nada se leva deste mundo, tudo se deixa para trás, a não ser os “tesouros” acumulados no céu durante esta vida.

Naturalmente, o problema não está nos bens, enquanto tais; a visão de fé sobre a vida nos faz acolher e apreciar, com simplicidade e gratidão a Deus, os bens colocados à nossa disposição pela natureza, ou aqueles conseguidos através do trabalho honesto. O problema, de um lado, é saber se a posse dos bens foi legítima e não lesou o direito e a dignidade de ninguém. Por outro lado, importa ver nossa atitude em relação aos bens: se eles se tornam o valor supremo de nossa vida e, por eles, somos capazes de sacrificar qualquer outro bem, quer dizer que eles tomaram conta de nossa vida e passamos nós a ser servidores deles, em vez de estarem eles a nosso serviço. Aqui começa a idolatria dos bens, pois o próprio Deus, sua lei e seus mandamentos, ficam em segundo plano diante das “exigências” desse ídolo. Sem falar dos irmãos, que se tornam vítimas nessa idolatria...

Por isso, a Campanha da Fraternidade nos faz rever nossas atitudes em relação ao dinheiro e aos bens deste mundo; que eles sirvam à nossa vida e ao bem comum, para conviver em fraterna solidariedade com os outros. Isso requer conversão contínua.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010


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É hora de decisão

Os Mandamentos do Senhor são caminhos de liberdade
"Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos. Tu os escreverás nos umbrais e nas portas de tua casa" (Deut 6, 4-9).
Quando você visita um judeu ortodoxo, as portas de sua casa estão marcadas com os mandamentos. Nós, hoje, precisamos marcar as nossas portas com o sinal da salvação. Vamos consagrar o nosso lar ao Senhor, pois não permitiremos que o inimigo entre em nossos lares.
O Primeiro Mandamento é: "Amarás o Senhor teu Deus com toda a tua força e com toda a tua alma". Mas para que os Mandamentos do Senhor tenham efeito na nossa vida, nós precisamos ouvir a voz e a vontade d'Ele. É necessário ouvirmos, pois a Palavra de Deus é luz para nossos passos, é libertação. E quem quer ser liberto precisa ouvir a vontade de Deus. E quem ouve a Palavra de Deus é semelhante a um homem sábio. Quando entramos em uma livraria, vemos que as prateleiras estão lotadas de livros de "autoajuda" - todos estão procurando ajuda - mas, na verdade, eles estão procurando sabedoria.
E o homem sábio é aquele que firma a sua casa no Senhor. A Palavra de Deus realiza a sua eficácia porque a ouvimos. Você só será feliz se você praticá-la [a Palavra de Deus]. Ouvindo-a precisamos ter a intenção de praticá-la.
Existe uma passagem biblíca que diz que um pai tinha dois filhos. Ele chamou o primeiro e disse: "Filho vai trabalhar na vinha". E o filho respondeu dizendo que "sim", mas não foi. O pai chamou o segundo, mas esse respondeu que "não", mas no final acabou indo. Qual deles obedeceu ao genitor? O segundo, porque fazer a vontade do Pai, muitas vezes, não implica fazê-la com a boca, mas obedecê-la com o coração.
Em Mateus 19, 16-22, vemos que a primeira coisa que temos de reconhecer é que Deus é bom, que Deus é amor. A única razão que justifica estarmos aqui é porque o Senhor é bom. E por Ele ser bom e nos amar demais, Ele nos trouxe até aqui para nos agraciar. Para retirar de nós toda a tristeza, todo o lixo que o mundo foi depositando ao longo dos anos.
Jesus abre a porta para você. Se quiser ter vida, abra a porta do seu coração. Eu vim buscar a vida verdadeira e ela não se finda depois das festas. Vida nova começa, hoje, com a sua decisão.
Você que perdeu o sentido da vida, que sente uma tristeza profunda, hoje Deus abriu para você uma porta.
Os Mandamentos do Senhor são caminhos de vida e liberdade. Quando nos afastamos desses caminho perecemos. É por isso o Senhor o trouxe à Canção Nova: nestes dias Ele quer se revelar a você. Mas para que você tenha essa experiência com o Senhor é necessário se prostrar, deixar cair por terra os apegos, deixar que Ele conduza a sua vida.
Conversão é se agarrar ao Reino de Deus, é decisão. E decidir-se é deixar tudo por causa de Jesus. "Tenho emprego, casa, marido (mulher), mas eles não podem ser maiores que o meu Deus". O jovem rico encontrou o maior tesouro e Jesus só pediu que ele desprezasse tudo por causa d'Ele. E a Palavra diz que o jovem foi embora triste. E tudo porque ele não foi capaz de deixar tudo por causa do Senhor.
Uma vez perguntaram para Jesus o que era necessário para entrar no Reino de Deus e Ele disse que era necessário sermos como criancinhas, porque elas são desapegadas. O que nos salva é abandonar tudo como uma criança. Hoje estamos recomeçando a nossa vida. E vou dizer um segredo: você está começando a sua nova vida muito bem, porque você está entregando as rédeas da sua vida nas mãos de Deus.
Santo Agostinho, no início da sua conversão, não conseguia dar passos, porque para tudo ele dizia: "Vou fazer amanhã". E quando ele se deu conta de que era necessário não deixar para amanhã, mas sim fazer naquele exato momento, ele viu que era possível caminhar.
Até quando vamos dizer "Amanhã, amanhã..."? Por que não agora? Muitas vezes você está pegando fôlego para pular no fosso. Eu tenho uma notícia maravilhosa: nós vamos pular para o outro lado juntos!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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Onde é que você gasta o seu tempo?

O que é essencial ou acidental em você?
Onde é que você gasta o seu tempo? O que é essencial ou acidental em você? Onde é que você derrama a sua vida?
Amar é doer o tempo todo. Você ama um filho e sabe que ele precisa ir para a escola, mesmo que ele fique lá gritando e você saia chorando, porque ele precisa se desprender de você. Na minha infância, eu fazia xixi na calças na escola só para ir para casa ficar com minha mãe. Até que no quarto dia a professora disse que tinha providenciado uma cuequinha. Ali foi o momento em que eu aprendi a perder.
Você mãe tem dor de parto para trazer seu filho ao mundo. Mas você vai "parturir" esse menino o tempo todo. Mãe que não sabe perder, não sabe educar o filho. Digo tudo isso para falar da sarça ardente e da ordem de Jesus sobre a travessia rumo à nossa conversão.
Moisés reconhece a missão de levar o povo a passar pelo deserto. E vê uma sarça que queima sem se consumir. Mas ele tem consciência de aquele momento é acidental em sua vida. Deus poderia ter se manifestado de outra forma. Acidental é aquilo que poderia ser diferente, que não faz falta, que com a ausência a vida continuaria do mesmo jeito.
Voltamos à música. "Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia solitário sem ter feito o que eu queria".
A morte teria encontrado Moisés se ele pensasse que na sarça ele tinha visto tudo. Deus não nos entrega nada para que isso morra, mas para ser multiplicado. Qualquer experiência humana não termina ali, mas sempre tem um algo a mais.
Sarças podem arder tanto para encantar, como para desesperar, quando você viveu aquele momento de dor e disse que era demais, que não iria suportar. "Não vejo outra perspectiva, não vejo solução". Mas você fez um desafio a si mesmo e não ficou parado com a sarça.
A vida, às vezes, nos faz parar para ver a sua beleza, mas também a sua tragédia. E nada pode nos parar. É a junção do calvário e sepulcro vazio que dão sentido à nossa vida. O que vai fazer a diferença é o modo como você encara o momento que vive.
A vida é inteligente o tempo todo. A morte é um processo natural de dar lugar ao outro. Está certo que a gente ama, mas você não pode ficar parado. Não pare naquele momento, porque o definitivo é destrutivo sempre. O definitivo chama-se inferno e quem cai no definitivo corre o risco da arrogância. Amor sobrevive daquilo que não sabemos do outro, mas desconfiamos, estamos descobrindo a cada dia.
"Essa festa está tão boa que eu não queria que acabasse". Mentira! Já está na hora de ir embora. O resto da vida é tempo demais. O pôr do sol só é bonito porque está acabando. Se não fosse passageiro não iríamos prestar atenção nele, pois estaria ali toda hora.
Deus nos indica um caminho a percorrer. O que Jesus nos fala é: "Corra atrás do que está em você. Dentro de você há tantos lugares para chegar, tanto pôr do sol. No lugar da trovoada também ter pôr do sol". Você não nasceu para o definitivo das tragédias.
Religião é antes de qualquer coisa a mistura do sagrado e divino em nós. Conheça o que você é, porque assim você saberá trabalhar melhor com você mesmo. Nós queremos conhecer o outro, mas não queremos conhecer a nós mesmos. É luta o tempo todo. Você vai ver o que é atraente, mas também os seus espinhos. E fazer a experiência de caminhar no deserto e ir além.
E se Jesus perguntar quem é você? O que você tem feito da sua vida? O que você tem permitido que os outros façam da sua vida? O que na sua vida é essencial? Onde você gasta os seus dias, as suas horas?
A gente está lidando o tempo todo com "abelhas" que nos rondam o tempo todo para extrair alguma coisa de nós. O que sai? Mel ou fel? É muito fácil produzir mel quando tudo está favorável a nós. Mas o desafio está em dar testemunho da nossa fé quando tudo está desarrumado e proclamá-la para aquele que nos fez "descer da árvore".
Você quer ser feliz, acertar, mas corre o risco de chegar lá e dar conta de que não deu certo. Só chega lá quem toma a disciplina de não desistir.
O que você gostaria de fazer? O que você gostaria de sonhar diferente? Se hoje você morresse, quais sonhos morreriam junto com você?
Só sobrevive no deserto quem se planeja para fazer uma travessia segura. A coisa mais fácil é perder o rumo da vida, gente. Basta uma luz no foco errado. Cuidado com tudo aquilo que brilha demais, que é muito artificial.
Nunca vi um rapaz chorando porque não ganhou o iate que queria. Mas já vi muitos rapazes chorando sem terem coragem de contar que queriam se sentir amados. A falta de amor faz chorar, destrói. Amor é essencial. E muitas vezes nos prendemos para dar aos filhos o que é acidental.
Nós só conseguimos suportar a travessia do deserto se estivermos agrupados. Ninguém chega ao céu ou ao inferno sozinho. Sempre estamos agrupados.
Essa música é diferente da outra e nos dá esperança: "Eu preciso de Ti, meu Senhor. Quero caminhar contigo e não mais andar sozinho. Eu preciso de Ti".

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


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É hora de decisão

Os Mandamentos do Senhor são caminhos de liberdade
"Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos. Tu os escreverás nos umbrais e nas portas de tua casa" (Deut 6, 4-9).
Quando você visita um judeu ortodoxo, as portas de sua casa estão marcadas com os mandamentos. Nós, hoje, precisamos marcar as nossas portas com o sinal da salvação. Vamos consagrar o nosso lar ao Senhor, pois não permitiremos que o inimigo entre em nossos lares.
O Primeiro Mandamento é: "Amarás o Senhor teu Deus com toda a tua força e com toda a tua alma". Mas para que os Mandamentos do Senhor tenham efeito na nossa vida, nós precisamos ouvir a voz e a vontade d'Ele. É necessário ouvirmos, pois a Palavra de Deus é luz para nossos passos, é libertação. E quem quer ser liberto precisa ouvir a vontade de Deus. E quem ouve a Palavra de Deus é semelhante a um homem sábio. Quando entramos em uma livraria, vemos que as prateleiras estão lotadas de livros de "autoajuda" - todos estão procurando ajuda - mas, na verdade, eles estão procurando sabedoria.
E o homem sábio é aquele que firma a sua casa no Senhor. A Palavra de Deus realiza a sua eficácia porque a ouvimos. Você só será feliz se você praticá-la [a Palavra de Deus]. Ouvindo-a precisamos ter a intenção de praticá-la.
Existe uma passagem biblíca que diz que um pai tinha dois filhos. Ele chamou o primeiro e disse: "Filho vai trabalhar na vinha". E o filho respondeu dizendo que "sim", mas não foi. O pai chamou o segundo, mas esse respondeu que "não", mas no final acabou indo. Qual deles obedeceu ao genitor? O segundo, porque fazer a vontade do Pai, muitas vezes, não implica fazê-la com a boca, mas obedecê-la com o coração.
Em Mateus 19, 16-22, vemos que a primeira coisa que temos de reconhecer é que Deus é bom, que Deus é amor. A única razão que justifica estarmos aqui é porque o Senhor é bom. E por Ele ser bom e nos amar demais, Ele nos trouxe até aqui para nos agraciar. Para retirar de nós toda a tristeza, todo o lixo que o mundo foi depositando ao longo dos anos.
Jesus abre a porta para você. Se quiser ter vida, abra a porta do seu coração. Eu vim buscar a vida verdadeira e ela não se finda depois das festas. Vida nova começa, hoje, com a sua decisão.
Você que perdeu o sentido da vida, que sente uma tristeza profunda, hoje Deus abriu para você uma porta.
Os Mandamentos do Senhor são caminhos de vida e liberdade. Quando nos afastamos desses caminho perecemos. É por isso o Senhor o trouxe à Canção Nova: nestes dias Ele quer se revelar a você. Mas para que você tenha essa experiência com o Senhor é necessário se prostrar, deixar cair por terra os apegos, deixar que Ele conduza a sua vida.
Conversão é se agarrar ao Reino de Deus, é decisão. E decidir-se é deixar tudo por causa de Jesus. "Tenho emprego, casa, marido (mulher), mas eles não podem ser maiores que o meu Deus". O jovem rico encontrou o maior tesouro e Jesus só pediu que ele desprezasse tudo por causa d'Ele. E a Palavra diz que o jovem foi embora triste. E tudo porque ele não foi capaz de deixar tudo por causa do Senhor.
Uma vez perguntaram para Jesus o que era necessário para entrar no Reino de Deus e Ele disse que era necessário sermos como criancinhas, porque elas são desapegadas. O que nos salva é abandonar tudo como uma criança. Hoje estamos recomeçando a nossa vida. E vou dizer um segredo: você está começando a sua nova vida muito bem, porque você está entregando as rédeas da sua vida nas mãos de Deus.
Santo Agostinho, no início da sua conversão, não conseguia dar passos, porque para tudo ele dizia: "Vou fazer amanhã". E quando ele se deu conta de que era necessário não deixar para amanhã, mas sim fazer naquele exato momento, ele viu que era possível caminhar.
Até quando vamos dizer "Amanhã, amanhã..."? Por que não agora? Muitas vezes você está pegando fôlego para pular no fosso. Eu tenho uma notícia maravilhosa: nós vamos pular para o outro lado juntos!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


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40 dias de reflexão

Vivemos no mundo, mas sem seguir suas orientações
Em um mundo dessacralizado, distante da prática religiosa, percebe-se a influência dos tempos litúrgicos. Embora deformados, o Natal, a Páscoa e outras festividades têm ressonância no ambiente humano. Ainda que seja débil sua repercussão na consciência dos indivíduos, devem ser utilizadas em favor dos objetivos de evangelização, que é levar aos homens a Mensagem de Cristo.
As semanas que antecedem as comemorações da Morte e Ressurreição do Salvador, denominadas “tempo quaresmal”, nos proporcionam ricos ensinamentos, farta e bela semeadura, capaz de, uma vez aproveitada, produzir abundantes frutos espirituais.
Recordam outra “quaresma”, os quarenta dias de Jesus no deserto, preparando-se para sua missão salvífica. Ensina-nos o evangelista Marcos (1, 12-13): “E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás e vivia entre as feras e os anjos o serviam”. E Lucas (4, 1-13) completa a descrição mostrando a vitória de Jesus sobre as tentações. Esse fato é revivido pela Igreja a cada ano e isso ocorre, entre outros motivos, pela sua própria natureza. Diz o Vaticano II em “Lumen Gentium” nº8: “A Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”. Queremos uma Igreja sem mancha nem rugas, embora composta de homens. Isso somente será possível através de uma verdadeira conversão. Exatamente é este o alvo do tempo litúrgico da quaresma.
São seis semanas de preparação para a Páscoa. Ela une profundamente cristãos e judeus. A mesma Sagrada Escritura serve de elemento constitutivo para uns e outros. A diferença é que nós celebramos o que já aconteceu – a vinda do Messias esperado – e vivemos na esperança da vida definitiva no paraíso; os israelitas, na expectativa do Salvador prometido ou o Reino de Deus.
Uma eficaz e condigna celebração da Páscoa se obtém, sobretudo, pela lembrança das exigências do Batismo, a frequência em ouvir a Palavra de Deus, a oração, o jejum e a esmola. A penitência é uma característica desta época. Lamentavelmente, hoje em dia, os cristãos, arrefecidos em sua Fé, esquecem-se desses compromissos.
O Concílio Ecumênico, na Constituição “Sacrosanctum Concilium”, adverte: “A penitência no tempo quaresmal não seja somente interna e individual, mas também externa e social” (nº110). São recomendados também “os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias, como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias)” (Catecismo da Igreja Católica, nº1438).
Esse quadro nos indica o caminho da perfeição, que passa pela Cruz. E lembra o dever da santidade, que, para ser cumprido, exige o esforço. Em consequência, a ascese e a mortificação, fazem parte do plano de Deus a respeito de seus filhos.
O quinto mandamento da Igreja prescreve o jejum e a abstinência. Eles são um meio de dominar os instintos e adquirir a liberdade de coração. Estão presentes também no Código de Direito Canônico (cc 1249 a 1253). O primeiro começa: “Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados pela lei divina a fazer penitência”. E no seguinte: “Os dias e tempos penitenciais em toda a Igreja são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma”. No Brasil, a abstinência das sextas-feiras – exceto na Semana Santa – pode ser comutada por “outras formas de penitência, principalmente obras de caridade e exercícios de piedade”.
Este período do ano litúrgico coloca diante de nossos olhos, como imperativo da vida cristã, a conversão – através da penitência. Ora, nós respiramos uma atmosfera visceralmente contrária. Tudo em torno de nós sugere o prazer sem limites, isento de compromisso, um comportamento à margem das exigências oriundas das determinações do Evangelho. Essa maneira de ser penetrou os umbrais sagrados. Assim, pouco se fala do pecado, dos deveres que são substituídos por direitos sem barreiras, de um Cristo despojado de seus ensinamentos, que constrangem a sede ilimitada de liberdade sem peias.
Esta época litúrgica tem muita semelhança com o apelo dos profetas à conversão, e esta, a partir do coração. Tanto é assim que usamos os textos do Antigo Testamento na escuta da Palavra de Deus, dirigida a cada um dos fiéis em nossos dias.
O apelo de Pedro deve repercutir em nossos ouvidos: “Salvai-vos, dizia ele, dessa geração perversa” (Atos 2,40). Vivemos no mundo, mas sem seguir suas orientações. O cristão será sempre alguém que “rema contra a corrente”. Quando encontramos um pregador ou um agente pastoral que teme ensinar a mesma Doutrina de Jesus Cristo ou prefere amenizá-la para não afastar os fiéis, sabemos que não são verdadeiros pastores.
A Quaresma é um tempo propício à reflexão cristã, a uma conversão do coração, a uma prática de penitência, tão distanciada de uma mentalidade moderna à margem do Evangelho, mas que penetrou até nas fileiras dos seguidores de Cristo.
Vivendo os ensinamentos da Igreja neste tempo litúrgico, nos dispomos a receber as graças da Páscoa da Ressurreição

sábado, 13 de fevereiro de 2010


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Fazer o caminho

O caminho depende de tempo, não de passado ou de futuro
O tempo real nos coloca no contexto de uma via, de um caminho, tendo um ponto de partida e outro de chegada. É tempo de alegrias e tristezas, de hostilidades e rejeição, ou não. Importa caminhar com muita coragem, não se deixando abater pelos desânimos que vão sendo encontrados.
Pelo caminho, as deficiências vão sendo aos poucos curadas, os sonhos, às vezes, sendo realizados. Importa não ficar estagnado por causa dos problemas, dos preconceitos e situações impostas pelo novo contexto cultural. Não podemos perder as nossas forças e princípios motivadores.
Não é fácil acreditar no potencial existente em cada pessoa humana. Pior ainda é aceitar os prodígios realizados pelos que são comuns a todos nós. Podemos aqui destacar a frase muito popular: “Santo de casa não faz milagre”. Mas isso não é verdade.
O certo é que toda pessoa humana existe para cumprir uma missão. É por isso que existem os dons, quase como um destino, uma configuração de responsabilidade, que abarca toda a existência concreta na história da humanidade.
É muito grande a força da existência. Ela coincide com a vontade do Criador, num tempo determinado, em vista da salvação e da libertação. Existimos para edificar um caminho florido pelas maravilhas de uma vida que precisa ser feliz.
A marca referencial é o amor fraterno na comunidade, ou no corpo social, construindo solidariedade e unidade. As competições, os interesses particulares, as preferências egoístas e os desejos de publicidade dificultam o verdadeiro caminho.
O bem comum é fruto de práticas concretas de amor. É amor que vem de Deus e existe em nós pelo fato de que Ele nos tornou Seus filhos adotivos. Amando os irmãos, amamos a Deus. Assim conseguimos construir uma humanidade sem barreiras.
O caminho depende de tempo, não de passado ou de futuro propriamente dito, mas do hoje, da vida real e concreta. É o testemunho na qualidade de vida do agora. É o jeito da pessoa ser, de viver, de celebrar e de agir no mundo com responsabilidade.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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Procurando a alegria?

Grandes multidões levadas pela euforia
Conscientes ou não, o certo é que todos nós andamos incansavelmente à procura da felicidade. Nascemos com este destino e embora as consequências de nossas escolhas, muitas vezes, nos façam pensar diferente, é inegável que Deus nos criou para a alegria; ser feliz é nossa vocação! Justamente por trazermos impressa na alma essa sede de felicidade é que andamos à procura desse bem; inclusive, muitas vezes, em lugares incertos.
Aproximam-se os dias de carnaval e nesta época é comum contemplarmos grandes multidões, levadas pela euforia, em busca da felicidade pelas avenidas da vida. Conheço gente que se programa o ano inteiro para “curtir” os dias carnavalescos. Alimentam a esperança de, ao menos por certos momentos, esquecer os problemas e “ser felizes”. Desconhecem que Deus é a fonte da alegria plena e se afastam cada vez mais d'Ele, enquanto se deixam embalar pelo ritmo da euforia.
Não faz muito tempo, tive a oportunidade de entrevistar uma ex-passista da Portela. Fiquei surpresa com suas revelações, inclusive quando ela disse que não era tão feliz, como muitos imaginavam ao vê-la desfilar em grandes carros alegóricos no “Sambódromo”. Segundo ela, muitas vezes, durante os desfiles, segurava um sorriso “congelado no rosto”, enquanto seu coração era tomado de angústias. Quanto mais tomava consciência de que a alegria é algo mais que a euforia, tanto mais sentia o vazio tomar conta de si. Esperava, ansiosa, chegar a Quarta-feira de Cinzas para entrar em uma igreja e falar com Deus, que, aliás, naquela época, nem O reconhecia como Senhor. Revelou-me ainda que os dias após esse período eram sempre os piores do ano, pois sem o efeito do álcool e da adrenalina do ritmo, “caía na real” e sentia grande tristeza ao perceber que não era valorizada como pessoa, mas sim, como objeto.
Lembrando-me daquele depoimento, imagino quantos foliões passam por situações semelhantes nesses dias de carnaval! Quem dera poder levar uma palavra de ânimo a cada um, poder mostrar que existe uma alegria verdadeira e que todos nós somos capazes dela. A mídia não fala sobre isso, antes estimula a euforia liberal, afirmando que ser feliz é fazer tudo que se quer a qualquer hora. O que aliás, nem podemos chamar de liberdade, pois agir sem compromisso com a verdade e com a consciência, é libertinagem, e libertinagem não produz autêntica alegria!
Liberdade é fazer tudo o que é justo, bom e legítimo conforme a lei de Deus. Fora disso não seria escravidão?
O jovem Santo Agostinho é um exemplo claro de quem buscou a felicidade distante de Deus; ele mesmo confessa: “Tarde te amei beleza antiga e sempre nova... só em Ti encontrei a perfeita alegria que procurei distante de Ti”. Acontece que fomos criados por Deus e é somente n'Ele nos sentimos plenos. Isso não é uma conclusão religiosa, é fato de vida! Se você procura a alegria, deve considerar também esta verdade. A alegria é um dom do Espírito Santo. É mais do que sentimento, é um estado de alma, fruto da confiança plena no amor do Criador.
Diz um provérbio inglês que: “O Cristão é a única Bíblia que ainda se lê neste mundo”. Portanto, o carnaval é uma ótima oportunidade para testemunharmos nossa fé. Aliás, acredito que é mérito e dever de todo cristão iluminar este mundo com um testemunho de esperança.
É tempo de mostrar, com a vida, que a alegria plena tem endereço certo e, portanto, é possível encontrá-la. Lembre-se de que essa virtude [alegria] não é ausência de problemas; é expressão de confiança nos desígnios de felicidade que Deus tem para nossa vida. Desígnios são mais que simples desejo; são as disposições e projetos de Deus a nosso respeito. Ele tem desígnios de amor e felicidade para nossa vida, necessitamos entrar nos propósitos d'Ele para que sejamos plenamente felizes. O próprio Senhor nos garante em Sua Palavra: “Bem conheço os desígnios que mantenho para convosco – oráculo do Senhor – , são desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança” (Jr 29,11).
Portanto, alegre-se! Deus o quer feliz, tem desígnios de felicidade para você! Não deixe para depois do carnaval... Aproveite estes dias para participar de um dos inúmeros retiros que a Igreja promove neste tempo e experimente abandonar-se nos projetos do Senhor. Eu fiz essa experiência e sou muito mais feliz hoje. “Quando caminhamos segundo a vontade do Criador, nossa vida segue como um rio: tortuoso sim, mas seguro em seu curso natural” (monsenhor Jonas Abib).
Fomos criados para a verdadeira alegria, deixemos que o Criador nos conduza a ela.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


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Sempre jovem

Muitos se apagam ao perceberem os primeiros sintomas da velhice
Todo ser humano é, para si mesmo, um mistério. Consta de um corpo sujeito às vicissitudes naturais e de uma alma espiritual, que não conhece decrepitude, conserva todo o seu vigor ( embora nem sempre o manifeste, porque está sujeita ao funcionamento do cérebro e das faculdades corpóreas em geral): conseqüentemente pode-se falar da perene juventude da pessoa humana.

Nem todos têm consciência disso. Muitos, ao despontar dos primeiros sintomas da velhice, se encolhem e vão-se apagando aos poucos. Outros, porém, se esforçam para não perder o ânimo juvenil; dir-se-ia até que, quanto mais próximos se acham do fim de sua caminhada terrestre, tanto mais vigorosos de ânimo parecem. E quais seriam as características dessa perene juventude?

Podem-se assinalar as seguintes:

- Abertura ao presente e ao futuro, em vez de encolhimento no passado… Interesse pelo que acontece de novo e pelos desafios da vida. O jovem não perde o amor ao ideal e às causas nobres; sabe vibrar com os que as propugnam.

- Fé… Fé em Deus certamente e no seu convite para a vida eterna… Mas também fé no valor da vida, ainda que sofrida… Fé no valor da procura incessante pela Verdade e pelo Bem… Uma das características mais espontâneas do ser humano é ser sequioso… é desejar algo mais do que as coisas visíveis e sonoras que passam. Quem tem fé, saberá que quanto mais próximo estiver do fim de sua caminhada terrestre, tanto mais próximo estará também da consumação ou do encontro definitivo com a Beleza Infinita. Esta o vai invadindo sempre mais.

- Magnanimidade… Ter um ânimo magno, grande para vencer as intempéries da caminhada. Diria São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12,21). Com outras palavras: “Não sejas mesquinho nem pusilânime, fechado em ti mesmo”. A luta em prol das causas nobres é sempre rica de esperança, pois não pode vir a ser frustrada a criatura cujo Divino Fabricante a fez para o Infinito e lhe imprimiu na alma o selo do Infinito.

Está claro que a fé cristã só pode corroborar os dados que a própria observação psicológica aponta. O cristão tanto mais jovem deve ser quanto mais longe ou quanto mais chegado à eternidade estiver. Os Santos deixaram-nos eloqüentes testemunhos desse paradoxo: ânimo juvenil em um corpo desgastado… Testemunhos dos quais um dos mais recentes e significativos é o do saudoso Papa João Paulo II. Anteriormente a ele sejam registrados Giovanni Papini, Helen Keller, Marie Heurtin…

Essas reflexões impõem-se a todas as idades. Não é no fim da caminhada terrestre que se vai começar a pensar no ponto de chegada. Todo caminheiro deseja quanto antes chegar ao termo da viagem; ele não o pode esquecer sob pena de cair num precipício. A pessoa sábia há de cultivar sempre a juventude psicológica ou o amor às causas grandes e nobres e, por excelência, o profundo e constante anseio do Bem Absoluto, que também é a Beleza Infinita.

“Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousar em Ti” (S. Agostinho, Confissões I 1).

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

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Tempo: Espelho de esperanças e ambiguidades

Ele é sempre soberano e livre como o vento
Tempo. Esse é um termo que muitas vezes se apresenta ambíguo para nossos sentidos e para nossa compreensão. Contudo, é um conceito carregado de significado e possibilidades. Principalmente em nossos dias, nos quais a vida se tornou correria e o “estresse”, companheiro de jornada, essa palavra porta consigo sonhos, expectativas, esperanças e frustrações.
Há muitos que convivem com a frustração de não ter tempo para nada: Nem para os filhos que crescem; nem para os pais que passam; tampouco para a saúde, que constantemente costuma se retirar devido à ausência de cuidados.
Alguns cultivam a esperança, aguardando com expectativa a chegada de um tempo melhor; outros, por sua vez, sonham com o dia em que terão tempo para concretizar os projetos que os habitam.
Tempo: para alguns vilão; para outros possibilidade de ser mais... Realidade prenhe de significado e portadora de inúmeras contradições. Ele sempre é, sem ser... pois, existe no real da vida, mas nunca pode ser aprisionado. Ele é sempre movimento, é sempre presença na ausência.
Todavia o tempo se manifesta sempre como um "presente" que se descortina em nosso presente. Ele não espera nem deixa de acontecer, e é sempre portador de vida e possibilidades para quem sabe compreendê-lo e aproveitá-lo, por mais ambíguo que pareça.
É no concreto dos dias, no “tempo” que se desvela no hoje que reside a Graça para o existir confiado a cada um.
Com a disposição aliada à Graça é possível transformar o tempo – o que temos no agora, mesmo diante de seus desafios – em realizações, em vitórias e em construção de uma bela obra que acontecerá aos poucos e se configurará através de boas escolhas e percepções.
O tempo é sempre possibilidade. E até quando maltrata, ele pode ensinar e preparar para a vitória.
Ele é sempre soberano e livre como o vento: é de todos e não é de ninguém... Todavia, não é necessário persegui-lo nem acorrentar-se a ele, pois, para o coração que deseja crescer, cada segundo porta o Auxílio necessário que iluminará aquele pedaço de existência. É preciso apenas atenção e sensibilidade para perceber e abraçar tais Auxílios.
Em Deus, no qual os tempos dos verbos são outros, nosso tempo se derrama e se perpetua, entrelaçando-se ao Seu, e conjugando já, aqui nesta vida, as categorias verbais que só a eternidade é capaz de interpretá-las.
Lancemos n’Ele o nosso tempo e nossas preocupações e construamos – com o que a vida nos confia no hoje – dias melhores e mais felizes.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

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O sentimento de culpa

A dificuldade para lidar com os próprios limites
A culpa é um sentimento que atormenta a muitos, muitas vezes de forma tão intensa que pode “travar” a vida da pessoa. É um sentimento que traz junto a si a tristeza, o desconforto e a ansiedade. É um sentimento, imediato e irracional, de angústia e de autocondenação que, muitas vezes, atormenta-nos e nos faz sentir dores de estômago.
Mas de onde nasce esse sentimento? A culpa nasce do ideal que trazemos dentro de nós do que é certo ou e do que é errado, do que é nosso dever fazer ou do que não devemos fazer. Conceitos introjetados em nós de acordo com a cultura em que vivemos. Ele surge quando contrariamos esses conceitos.
Quando a pessoa possui uma noção distorcida do seu próprio poder ou traz dentro de si conceitos muito rígidos e inflexíveis, noções desumanas do certo ou do errado, tende a se sentir excessivamente culpada. Muitas vezes, a culpa se refere não ao pesar por ela ter perdido o ideal, mas ao desapontamento por não ver realizado o desejo de ser amada, reconhecida, valorizada. Outras pessoas, por não conseguirem deparar com o próprio erro, tendem a sempre colocar a culpa nos outros.
Contudo, o sentimento de culpa é importante no nosso processo de crescimento pessoal e amadurecimento humano, pois aqueles que são destituídos de culpa vivem num mundo sem moral e sem lei, o que pode ser muito perigoso e até doentio.
A culpa, portanto, tem diversas nuances: pode ser um sentimento destrutivo e infantil, fechando-nos em nós mesmos e nos impedindo de amadurecer, e pode ser um sentimento construtivo, essencial para sermos pessoas responsáveis e capazes de crescer. A culpa positiva nasce da comparação entre o meu “eu” e os valores que solicitam de mim: a consciência de ter transgredido um estilo de vida livremente aceito, ou seja, nasce da consciência de ter transgredido um valor importante para mim (sinto, porque perdi o verdadeiro sentido de minha vida), nasce da capacidade de julgarmos a nós mesmos em termos dos valores morais que trazemos interiorizados. Aqui, nesse caso, quando a pessoa depara com o sentimento de culpa, o que acontece é uma atitude de autocrítica, de percepção do próprio erro e uma decisão de uma mudança de comportamento, de postura diante do próprio erro.
Por outro lado, aqueles que possuem dificuldade para lidar com os próprios limites, erros, fracassos e incapacidades tendem a se martirizar e a se culpar de forma excessiva. A causa desse sentimento destrutivo pode ser o medo do castigo (real ou imaginário) proveniente dos outros ou de nós mesmos, ou seja, o medo de sermos castigados pelos outros ao sermos descobertos no erro ou uma tendência a autopunição e autocondenação, na qual a pessoa se martiriza pelo seu próprio erro, travando toda a sua vida futura. Aprender a reconhecer a própria culpa é aprender a reconhecer que temos limites, que somos frágeis, que somos humanos e, portanto, erramos.
Existem pessoas que fazem um ideal de si mesmas tão elevado que se torna algo inatingível; com isso, elas nunca conseguem estar à altura dos próprios conceitos, caindo numa autocobrança impiedosa. Não podemos nos esquecer de que todos nós, homens e mulheres, trazemos em nós virtudes e defeitos, riquezas notáveis e incoerências.
Reconhecer a culpa exige coragem para reconhecermos nossas próprias limitações. Reconhecer a própria culpa é essencial para que brote uma nova postura diante de nós mesmos e do mundo, sem cobranças, sem acusações, sem autopiedade.
Precisamos aprender a ter uma justa estima de nós mesmos, uma autoimagem correta e normal no reconhecimento de que somos dotados de muitos elementos positivos, mas que, ao mesmo tempo, possuímos muitos contornos limitantes que dificultam o agir. Tendo uma imagem realista de nós mesmos e reconhecendo que não somos a pessoa que fomos no passado, mas que ainda não somos a pessoa que seremos no futuro.
Que tipo de sentimento de culpa você traz dentro de si? Uma culpa destrutiva, por medo de ser castigado ou por não admitir seus próprios erros? Ou uma culpa positiva, que nasce da consciência de nossa possibilidade de errar e que o leva a buscar ser cada dia melhor?